Escrito por: José Lemos*
Na primeira campanha para presidente
da República, depois dos regimes militares, em 1989, um dos candidatos foi
Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB e que havia liderado o Congresso
Nacional na formatação da Constituição de 1988. Certamente, ele era um dos três
candidatos mais preparados para aquela nobre função. Mário Covas, que havia
tido uma participação marcante como Constituinte e Leonel Brizola eram os
outros dois candidatos, dentre os postulantes, com mais credenciais para ser o
presidente do Brasil. Hoje eu tenho esta avaliação. Na época, infelizmente, eu
estava com a mente embotada e fiz uma das opções mais equivocadas de toda a
minha vida.
Ulysses e Brizola tinham mais idade.
Mário Covas já era um homem maduro. Competindo com eles estava Collor de Melo,
uma invenção da grande mídia e de segmentos da sociedade que temiam uma
eventual ascensão de Lula. Candidato que, junto com o seu partido, tinha um
forte discurso de moralização no trato da coisa pública. Ele foi deputado
constituinte com participação pífia. A sua mais visível participação naquele
período foi denunciar que no Congresso Nacional existiam ao menos trezentos
(300) picaretas. Jamais os identificou. A 'pureza' dos propósitos dele, e do
seu partido, os fizeram recusar a assinar a Constituição de 1988, que Ulysses
adjetivou de 'Cidadã'.
Collor era o mais jovem dos
postulantes, entrando nos 40 anos, e Lula recém havia ultrapassado esta idade
simbólica. Ambos acenavam com a retórica da renovação. Aqueles que, sendo
jovens, tinham vigor para mudar o Brasil, tirá-lo do marasmo em que os governos
militares o haviam deixado, e o primeiro Governo Civil, pós-regime militar,
tinha conseguido a proeza de tornar pior. O fato é que no Brasil sempre há a
tentativa de colocar a juventude como ingrediente importante para a renovação
de costumes, de práticas e, no caso, do fazer política. Isso não é
necessariamente verdadeiro como mostram e continuam mostrando os fatos
ocorridos no Brasil a partir de 1989.
Havia um grupo expressivo de pessoas
ligadas à Academia que apoiava e militava no movimento voltado para levar o
ex-operário, e o seu partido, ao poder. O ideário era de renovação. 'Ser contra
tudo isso que aí está'. Eu estava nesse grupo. Sonhávamos com o Lula-lá: O
'jingle' da época que nos arrepiava e fazia os nossos corações pulsarem mais
forte. Tínhamos naquela época a forte esperança de que, aquele homem, com rosto
e porte físico de brasileiro comum, faria diferente. Por isso o apoio
incondicional que nos levava a comprar adesivos, bandeiras e adereços da
campanha, de um partido que, na época, ainda não havia 'descoberto' fontes mais
'práticas' de financiamento de suas campanhas
Na outra vertente, o 'jovem'
candidato que se contrapunha àquele projeto, 'atirava' em todas as direções. Já
exercitava o que era a promessa de sua campanha: Liquidar com apenas um 'tiro
de espingarda', bem 'calibrada' todos os que se contrapusessem àquele projeto
de poder. O 'jovem' candidato apresentava-se com vigor atlético, que era
exaltado pela mídia e por correligionários, como se aquilo fosse um certificado
de garantia de honradez. A sua retórica beligerante atingiu Ulysses Guimarães a
quem chamou de 'velho'. Ulysses, muito perspicaz, com tiradas eletrizantes,
respondeu-lhe que era velho sim, mas não velhaco. Ele, o Collor, segundo
Ulysses, apesar da pouca idade era 'velhaco' nas ideias, no comportamento, nas
ações. Quem sobreviveu àqueles momentos sabe que aquela foi uma verdadeira
premunição do arguto político paulista.
Os candidatos 'jovens' foram para o
segundo turno, numa eleição que dividiu o Brasil. Ganhou o 'caçador de
marajás'. O candidato ex-operário perdeu, para sofrimento nosso, que
acreditávamos então que ele seria o homem correto para ocupar o cargo.
O tempo passou, e a história
política e econômica do país mostrou que o caráter dos dois contendores de 1989
foi emoldurado na mesma fôrma. Aquela que o 'velho', lúcido, perspicaz e honrado
Ulysses havia enquadrado na categoria de 'velhacos'.
Guardando as devidas proporções, a
nossa capital, São Luís, está passando por um processo parecido na próxima
eleição para prefeito. Como aconteceu no Brasil em 1989, o candidato mais
credenciado para o cargo, que é o ex-deputado Haroldo Sabóia, sobrou. Restou a
disputa entre o velho e 'novo'. Contudo, há uma diferença que é tão sutil como
um elefante andando numa joalheria: o candidato 'jovem' não faz muita questão
de esconder o seu comportamento velhaco. A cooptação de políticos e de
ex-secretário do candidato oponente, que até bem pouco tempo apoiavam a
candidatura adversária, é uma sinalização direta e explícita do que gente assim
é capaz de fazer para atingir o poder. E o que fará se os eleitores cometerem a
desventura de dar-lhes um crédito dessa envergadura. Nada mais velhaco na
política do que este tipo de ação. Epíteto que vale também para quem se deixou
cooptar, mediante acordos que apenas viriam às claras na hipótese, espero que
improvável, de uma eventual vitória das urnas de um projeto velhaco ainda no
ventre.
Na infelicidade de gente assim
chegar ao poder, como não tem projetos, experiências administrativas,
conhecimento, quadros com formação técnica conhecedora de uma realidade
difícil, irá 'fazer a política' do lotear os cargos da Prefeitura. Os meus
conterrâneos não cometerão a ingenuidade de acreditarem que as atuais adesões
são altruístas e desprendidas, e que objetivam tornar o trânsito menos caótico,
e operar para incrementar a qualidade de vida em São Luís. Não, o objetivo é o
poder pelo poder.
A decisão entre o 'novo' e o
'velho', como está sendo posta em São Luís é um falso dilema. A disputa, até
onde entendo, está entre um conjunto de ideias 'velhacas' exercidas por pessoas
com biótipos de jovens, contra a experiência que, mesmo com as muitas críticas
que eu e muitos temos à forma como foi encaminhada a administração da cidade
até aqui, mas que já mostrou como se pode avançar em itens cruciais como
transporte de massa, desafogo do trânsito, acesso à água encanada, incremento
no atendimento de saúde e o compromisso de melhorar a qualidade do ensino
municipal. Os meus conterrâneos não podem mais entrar em aventuras, devaneios.
Não podemos ser vítimas, ou cobaias, de experiências administrativas que
dispensam GPS para antever que não têm rumo. Neste momento o melhor será
continuar com o que é concreto. Dispensar abstrações. Devemos sim criticar,
cobrar a continuidade das ações já iniciadas. Não podemos recomeçar tudo do
ZERO. Literalmente!
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* É maranhense, professor associado na Universidade Federal do Ceará, autor de obras como Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de um País Assimetricamente Pobre
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